Quarta-feira, 21 de Março de 2012

AS ILHAS DE QUERIMBA OU DE CABO DELGADO. SITUAÇÃO COLONIAL, RESISTÊNCIAS E MUDANÇA. 1742-1822. INTRODUÇÃO II

(Continuação)

 

Os trabalhos que surgiram após a elaboração do Memorandum indicado, mostram, por um lado, que, especialmente, historiadores e antropólogos, elaboraram algumas tipologias[1] sobre as diversas situações de aculturação e algumas modalidades de contacto que lhe deram origem, que também contemplam as formas de resistência e oposição[2] geradas durante o processo e por outro que os estudiosos ao abordarem o fenómeno da aculturação têm utilizado, essencialmente, dois quadros conceptuais distintos:

 

 1 - O sistema de referência, elaborado nos Estados Unidos que tomou como base conceitos como conflito, ajustamento, reinterpretação, sincretismo e contra-aculturação;

2 - A tipologia das situações que surgiu em França e teve como principal obreiro Georges Balandier, que considera constituir a situação sociológica - que integra a situação colonial - onde ocorreu a interpenetração de culturas, a principal responsável pelos processos de mudança sócio-cultural.[3]

 

No presente projecto de investigação, face ao conteúdo dos dados fornecidos pelas fontes documentais escritas consultadas, utilizaram-se pela sua maior operacionalidade, os conceitos da situação colonial[4]  e de mudança social, sem, contudo, pôr de parte a perspectiva baseada no "sistema de referências" usando, sempre que pertinente, a sua terminologia conceptual, e deixar de ter em atenção que "... toute culture constitue un système, tout processes d'acculturation met cet système en relation avec l'histoire (...). Como factor de mudança sócio-cultural "a acculturation constitue un aspect mais partiel des facts étudiés par l'anthropologia historique"[5].

 

Também se usaram muitos dos princípios que integram o conceito ideal de luso-tropicalismo[6]  construído por Gilberto Freyre, e serviu de base às suas principais obras, que, na sua perspectiva humanista e valorativa, permitiu tornar evidentes os conflitos de interesses - político-administrativos, económicos, religiosos, sexuais e culturais - emergentes das relações sociais estabelecidas entre colonizadores e colonizados, sociedade civil e poder político, crentes e infiéis, senhores e colonos e pessoas livres e pessoas de condição escrava.

 

No decurso das várias fases de investigação, que serviram de base ao presente estudo, procedeu-se à aferição de conceitos sempre que os vocábulos a usar no texto para exprimirem conceitos científicos eram pouco conhecidos ou mesmo desconhecidos por terem sido engendrados em quadros de referência estranhos à cultura europeia apresentavam vários significados ou serviam para definir fenómenos diferentes.

 

Ao mesmo tempo que se debruçavam sobre o problema da conceptualização, os estudiosos, particularmente os antropólogos, preocuparam-se em imaginar e delinear as vias de análise[7] que os ajudassem a explicar as realidades sócio- -culturais relacionados com o fenómeno colonial. Entre as mais utilizadas salientam-se a difusionista, a histórico-cultural, a funcionalista e a estruturalista.

 

Em relação ao enquadramento teórico, como vias de análise, embora com algum realce para o difusionismo, estrutural-funcionalismo e teoria do conflito, procurámos utilizar uma abordagem multifacetada aproveitando complementarmente das diversas escolas teóricas os aspectos considerados pertinentes e significativos para perceber e explicar os factos sociais que constituem o objecto do presente projecto. Procurou-se deste modo "entrar em contacto directo com os problemas metodológicos imediatamente relevantes para a área de estudo" adequando a pesquisa "ao estágio actual da arte ..."[8].

 

Os dados utilizados na descrição e análise dos factos sociais que constituem o objecto desta abordagem foram recolhidos com a ajuda das técnicas de observação normalmente utilizadas pelos investigadores das várias Ciências Sociais (observação documental, observação directa intensiva e observação directa extensiva)[9]. Atendendo ao universo temporal escolhido e à escassez de materiais ligados à tradição oral e à arqueologia, preciosos auxiliares para conhecer e compreender a história de qualquer realidade sócio-cultural, foi dado especial realce à observação documental, aproveitando-se, preferentemente, as fontes primárias, sem contudo deixar de considerar o trabalho de campo e a observação directa intensiva, consubstanciada na observação participante e nas entrevistas informais realizadas a informadores qualificados. Em resumo, utilizámos as fontes e as técnicas de recolha de dados mais adequadas à natureza e aos condicionalismos temporais dos objectivos traçados a alcançar.A pesquisa documental realizada nos principais arquivos e bibliotecas públicas nacionais entre 1982 e 1992[10] de modo exaustivo entre 1982 e 1985, que nos proporcionou um acervo considerável de informação relevante, grande parte dela proveniente de fontes primárias e ainda não publicadas, foi uma tarefa gratificante, embora morosa e penosa, especialmente em relação à documentação avulsa não integrada em códices, que ocasionalmente aparece inadequadamente classificada fora do contexto temporal e espacial. A informação encontra-se, algumas vezes, registada simultaneamente nos ditos códices e na documentação avulsa, surgindo, aqui e ali, manuscritos com pequena diferença de forma e de conteúdo, aliás, assinalado ao longo deste trabalho. Para além destas, outras dificuldades tivémos de enfrentar, relacionados com a leitura diária de muitas centenas de manuscritos, por vezes carcomidos pela traça e amarelecidos e destruídos pelo tempo, que fomos obrigados a observar e registar integralmente no local por não dispormos de meios financeiros que permitissem obter microfilmes ou fotocópias.

 

Dos arquivos e bibliotecas visitados merece uma referência especial o Arquivo Histórico Ultramarino por ser aquele que, relativamente ao período escolhido, nos proporcionaria dados, qualitativa e quantitativamente, relevantes, pertinentes e significativos para este trabalho. Neste arquivo público especializado, onde se encontram as mais importantes fontes de informação relacionadas com a gesta dos Descobrimentos iniciados pelos navegadores portugueses a partir do século XV, para além de obras impressas, estão depositadas preciosas colecções de documentos escritos constituídas por códices e documentação avulsa[11], designadamente, a relativa a Moçambique. Os manuscritos que os integram contêm valiosíssima informação de épocas passadas, de consulta obrigatória para os estudiosos que pretendam abordar o fenómeno da colonização, "como facto social total" e reconstruir o quotidiano dos principais agentes intervenientes em tão complexo processo sócio-cultural. Também procurámos conhecer, através da consulta criteriosa dos ficheiros, os documentos impressos mais significativos, de produção nacional e estrangeira, respeitantes às Ilhas, Moçambique e costa índica africana, procedendo, posteriormente, à sua leitura e registo de informação.

 

A experiência adquirida através da observação participante e de entrevistas directas e pessoais e o contacto diário com as populações (Fig.1) e suas particularidades, originalidades, problemas, durante mais de 3 anos, proporcionaram-nos uma vivência muito aproximada da realidade sócio-cultural existente antes da independência de Moçambique, com muitos traços semelhantes aos descritos por outros observadores há mais de 150 anos, que nos ajudou a ter um entendimento mais claro e correcto da situação colonial em análise, dos seus processos e resultados. O procedimento metodológico posto em prática, aliás, difundido e adoptado por muitos investigadores do social[12], parte do princípio de que o contacto pessoal com uma região, o seu povo e cultura constitui uma prática necessária para colmatar insuficiências no conhecimento do passado. Os estudiosos que não trabalharam no terreno nem tiveram a oportunidade de se enquadrar no ambiente eco-geográfico e sócio-cultural do povo, sociedade ou grupo que procuram conhecer, defrontam-se com dificuldades acrescidas ao procurarem compreender e explicar as inter-relações Homem/Ambiente, Homem/Homem e Homem/Sobrenatural engendradas em diferentes épocas. Há autores que vão mais longe ao defenderem ser indispensável que etnógrafos e historiadores conheçam muito bem a sociedade de que desejam estudar o passado[13].

 

Fig. 1-Ilha do Ibo. Recolha de dados. CB. 1970

 

O método crítico (crítica externa ou crítica de autenticidade e interna ou crítica de credibilidade) utilizado em História[14] permitiu situar os documentos observados no tempo e no espaço, classificá-los e conhecer a autenticidade, credibilidade e valor dos seus testemunhos. Neste processo de crítica e avaliação nunca se deixaram de equacionar os preconceitos etno- eurocêntricos dos principais responsáveis pela produção e divulgação de documentos escritos - agentes do poder político colonial, como governadores, capitães- mores, juízes, presidentes do Senado, militares, feitores, comerciantes, marinheiros, viajantes e exploradores -, o seu deficiente equipamento conceptual, teórico e metodológico, a sua visão externa dos fenómenos e os seus interesses pessoais, e as exigências do contexto onde se encontravam inseridos. Tem-se consciência de que a informação produzida é fragmentária e nem sempre rigorosa e isenta de ideologias e pouco esclarecedora acerca dos conflitos e resistências gerados no seio da situação colonial[15]. Não se pode alhear do estado da ciência e das dificuldades que tiveram de enfrentar, há um, dois ou três séculos atrás, para tornarem possível uma vida e uma sobrevivência em comum, colonizadores e colonizados, dominadores e dominados, homens anónimos, muitos dos quais de portugueses só tinham o nome. Muitas das descrições que chegaram até nós, hoje, consideradas sem sentido e de conteúdo menos verdadeiro, não foram deturpadas intencionalmente sendo o resultado do desconhecimento da realidade ou de interpretação dos factos observados segundo os conceitos tradicionais portugueses da época. A informação disponível em arquivos, não foi recolhida por estudiosos (antropólogos, etnógrafos, geógrafos, demógrafos, economistas, biólogos, sociólogos, médicos ou historiadores), mas tão somente produzida por pessoas nem sempre de muitas letras, de acordo com as necessidades e exigências da vida, individual e grupal, e dos seus problemas quotidianos. Apesar destas dificuldades muitos foram aqueles que se preocupavam com a qualidade dos seus testemunhos, entre os quais aqui recordamos o major Gamito, que na introdução ao seu Diário testemunha: todas as observações que se acham consignadas neste Diário foram feitas com a possível exactidão e as coisas que descrevo ou foram por mim vistas e neste caso não as aumentei nem diminui, descrevendo-as como realmente me pareceram, ou foram dadas a conhecer por informações que obtive, as quais combinei, sempre que possível, com o testemunho de mais de dois indivíduos, em cuja capacidade eu confiava e por isso as considero dignas de crédito[16]. Evans-Prichards realça a importância para as Ciências Sociais desses testemunhos produzidos durante a época colonial ao escrever "que muitos dos relatos de profanos sobre os povos primitivos são excelentes e, em certos casos, as suas descrições só dificilmente poderão ser superadas pelos melhores investigadores de campo profissionais. Os homens que escreveram estes relatos possuíam uma vasta experiência sobre as comunidades em questão e falavam o seu idioma. (...) os administradores e missionários escreviam monografias minuciosas sobre as sociedades primitivas e as observações dos viajantes continuam a proporcionar informações valiosas ... [17].

 

Os investigadores que utilizam como objecto de estudo realidades sociais retrospectivas para atingir os seus objectivos costumam usar orientações metodológicas diferenciadas. Os antropólogos - culturais e sociais - e etnólogos procuram abordar o passado com a ajuda do conhecimento obtido em sociedades contemporâneas, especialmente, através do trabalho de campo e da observação participante[18]. Os historiadores e outros cultores do social[19] com o auxílio criterioso da multiplicidade de informação contida nos vários tipos de documentos de arquivo trabalham no estudo dos factos sociais de épocas passadas. E finalmente vários cientistas sociais, incluindo antropólogos e sociólogos, combinam com sucesso os dois métodos anteriores, dando mais realce a um ou a outro consoante a maior ou menor frequência de dados disponíveis relativamente a cada uma das orientações referenciadas[20]. Ligada a esta última perspectiva que tende a valorizar os documentos escritos elaborados por antigos relatores em sociedades sem escrita, nasceu uma nova disciplina denominada etno-história que, segundo Carl Wissler[21], tinha inicialmente como base a pesquisa de informações etnológicas nos documentos escritos, conceito que depois alargou os seus objectivos, definidos por Philip K. Bock do seguinte modo: "The subfield of anthropology wich uses materials from ethnografy and archeology in conjuction with documentary evidence for the reconstrution of the culture history" [22]. Autores como Poirier e Deschamps defendem ser "de réserver l'expression d' ethno-histoire à un ensemble de méthodes applicables, avec plus an moins d'ampleur suivant des documents disponibles, à toutes les comunautés humaines, Europe comprise"[23].

 

A etno-história consagrada "como especialização de estudo representa o reconhecimento do valor fundamental da história como possibilidade de conhecimento"[24], ao mesmo tempo que fornece novos campos de pesquisa às ciências antropológicas e etnológicas e à história, entre os quais se encontram as tradições orais e a observação dos arquivos - oficiais e particulares - cujo riquíssimo conteúdo aguarda uma exploração. As informações constantes destas fontes documentais fixados em vários "presentes etnográficos"[25], a avaliação da dinâmica das transformações e mudanças sócio-culturais verificadas ao longo do tempo.

 

 (Continua)

 



[1]- Uns consideram a aculturação espontânea, a aculturação forçada e a aculturação planificada, que assentam, respectivamente, em contactos livres, forçados e planificados (BASTIDE, Roger - Antropologia ..., cit., p.p. 39, 48-50); outros autores comoWACHTEL, Nathan, segundo a natureza do domínio e contacto, referem a aculturação espontânea e a aculturação imposta (Aculturação, cit., p.p. 154 e 155); finalmente, ABOU, Selim que na sua tipologia das situações de aculturação utiliza quatro níveis diferenciados: 1 - As populações em contacto, com cinco situações distintas, em que numa delas, o contacto entre sociedades globais, se distingue a invasão e a colonização, em que a sociedade colonial com a ajuda de militares, funcionários e colonos, impõe as suas instituições à sociedade colonizada: 2 - As culturas em contacto onde se referenciam cinco casos-tipo. relacionados com a homogeneidade e heterogeneidade da cultura, sua afinidade e prestígio; -Os modos de aculturação engloba a aculturação: espontânea, imposta e forçada, esta modalidade ligada à situação colonial; 4 - Os processos de aculturação que contemplam os quadros sociais em que a aculturação tem lugar. Diferenciam-se, entre outros, os processos de reintegração, sincretismo, assimilação e contra-aculturação (L'Identité Culturelle ..., 1981, p.p. 47-60).

[2]- Distingue-se entre resistência que representa uma recusa activa à mudança sócio-cultural e tem lugar nas primeiras fases do processo da aculturação e a contra-aculturação que, normalmente, surge na parte final do processo como resultado de uma crise cultural e é materialmente expressa através de movimentos de reacção manifestos e latentes (milenarismos, nativismo ou rivavilismo), do culto de carga e revolucionários). Para um conhecimento mais aprofundado sobre este tema consultar: HOEBEL, E. A. e FROST, E. L. - Antropologia Cultural e Social, 1981, p.p. 52-56; BERNARDI, B. - Introdução aos Estudos Etno- Antropológicos, 1974, p.p. 110-141 e 429; e SILVA CUNHA, J. -Política Indígena, p. 16 e Aspectos dos Movimentos Associativos em África, 1958, p.p. 11-14.

[3]- BASTIDE, Roger - Antropologia Aplicada, cit.

[4]- BALANDIER, G., define situação colonial, como "la domination par une minorité étrangére 'racialement' e culturellement différent, au nom d'une supérioté raciale (ou ethnique) et culturelle dogmatiquement affirmé, à une majorité autochtone matériellement inferiéure", defendendo que ela só tem sentido quando considerada "comme un complexe, une totalité" (op. cit., p.p. 10, 34 e 35). Para MOREIRA, Adriano, o conceito, que substitui o de colónia, deve ser entendido como um complexo peculiar de relações humanas sistematizadas tendo como fulcro um certo tipo de dependência e está presente todas as vezes que, no mesmo espaço territorial, coabitem grupos étnicos, culturalmente, distintos, cabendo o exercício do poder político, apenas a um deles, sob o signo da superioridade e acção modificadora de uma cultura em contacto.

[5]- BARÉ, J. F. - Acculturation, cit., p. 2.

[6]- Para um conhecimento mais aprofundado sobre a metodologia Gilbertiana consultar os excelentes artigos de MOREIRA, Adriano - "Recordação de Gilberto Freire" (p.p. 45-54), "Gilberto Freyre: O Luso-Tropicalismo" (p.p. 55-68) e "Metodologia Gilbertiana" (p.p. 107-116). In Comentários, Lisboa, 1992 e BASTIDE, Roger - Antropologia Aplicada, cit., p.p. 77-83 e de MACEDO, Jorge Borges de - "O Luso-Tropicalismo de Gilberto Freyre - Metodologia, Prática e Resultados", in Boletim da Academia Internacional de Cultura Portuguesa, nº 16, 1989, pp. 91 - 127.

[7]- Respeitam às estratégias e orientações teóricas adoptadas para o estudo dos fenómenos. Entre as principais que têm sido utilizadas indicam-se: o evolucionismo unilinear; o difusionismo com as escolas inglesa e histórico-cultural alemã; os morfologistas; o funcional-estruturalismo; a escola psicológica e psicanalista; o estruturalismo; a etno-história; a nova etnografia ou nova antropolgia; o neo- evolucionismo; o materialismo cultural; o materialismo dialéctico; a teoria geral dos sistemas; e a teoria do conflito. Para conhecer dos pontos de vista de cada escola consultar: MALINOWSKI, B. - Uma Teoria Científica da Cultura, 1962, p.p. 24-42, em que este antropólogo aborda os "conceitos e métodos da Antropologia"; ROCHER, Guy - Sociologia Geral - 3, Lisboa, 1981, p.p. 137-194; MOREIRA, Adriano - Ciência Política, cit., p.p. 78-112; FREEDMAN, Maurice - Antropologia Social e Cultural, Vol. I, p.p. 155-197; PHILLIPS, Gerard - Sociologia, Del Concepto a la Práctica, Madrid, 1982, p.p. 113-119 e 531-537; e HARRIS, Marvin - Introducción à la Antropologia General, 1991, 5ª Edição, p.p. 617-625.

[8]- KAPLAN, A. - A Conduta na Pesquisa, cit., p.p. 1 e 2.

[9]- Sobre esta temática ver BARATA, Oscar Soares - Introdução às Ciências Sociais. Lisboa, Vol. I, p.p. 148 e 149 e MANN, Peter - Métodos de Investigação Sociológica, p.p. 62 e 89.

[10]- Neste período dispenderam-se mais de 2500 horas, distribuidas por cerca de 500 dias, dedicados integralmente à recolha de informação, assim distribuidos: A.H.U. 227 dias, dos quais 170 apenas nos anos de 1982, 1983 e 1984; S.G.L. 157 dias; A.C.L. 32 dias; C.E.H.U. 27 dias; I.S.C.S.P. 24 dias; e B.N. 23 dias. Para além destas foram ainda visitadas o A.H.M. e as bibliotecas Central da Marinha, da Ajuda, Évora, Porto, Braga, Coimbra (Instituto de Antropologia), Universidade Nova de Lisboa, Centro de Estudos Africanos, do I.S.C.T.E. e Universidade Internacional.>

[11]- A documentação avulsa de Moçambique consultada está reunida em pastas que são agrupadas em caixas. Em cada pasta, que constitui um documento numerado, encontram-se vários manuscritos constituidos por cartas, petições, devassas, bandos, relações de população, descrições, mapas, regimentos, relatos, entre outros. A classificação que encontrámos, como resultado de uma nova arrumação de documentos, por vezes não corresponde à classificação anteriormente existente, nomeadamente a constante da obra de SANTANA, Francisco - Documentação Avulsa de Moçambique. Lisboa, 1964-67, 3 Vols.. Como até este momento (1993) não foi feita uma tabela de equivalências entre as cotas anteriores e as actuais, torna-se difícil comprovar e comparar os factos descritos e analisados por autores que pesquisaram antes de nós, constatando-se uma falta de coincidência em muitas das cotas apresentadas neste trabalho quando confrontado com outros publicados anteriormente, ou seja, para o mesmo documento aparecerão cotas diferenciadas. Nas caixas e códices que consultámos, constantes da Bibliografia, observámos os manuscritos um a um e não através do processo de amostragem.

[12]- STEAD, W. H. - Os Primeiros Povos da Rodézia. Lourenço Marques, 1947, p. 18; O'NEILL, Brian J. - Proprietários, Lavradores e Jornaleiros. Lisboa, 1984, p.p. 35, 38, 39 e 385; MONIOT, H. - "A História dos Povos sem História". In Fazer História 1 - Novos Problemas. Lisboa, 1977, p.p. 140-144; VILHENA, Ernesto - Relatórios e Memórias sobre os Territórios da Companhia do Nyassa. Lisboa, 1905, p.p. 221; BERNARDI, Bernardo - Introdução aos Estudos Etno- Antropológicos. Lisboa, 1978, p. 206; LÉVI-STRAUSS, C. - Les Structures Élémentaires de la Parenté. Mouton, 1967, p. 558; DESCHAMPS, H.e POIRIER, J. - "Histoire et Ethnologie". In Ethnologie Géneral. Pleiáde, 1968, p. 1436, entre outros.

[13]- FREEDMAN, Maurice - Antropologia Social e Cultural. Lisboa, 1978, p. 178.

[14]- Para um conhecimento mais profundado sobre a crítica histórica consultar SILVA REGO, A. - Lições de Metodologia e Crítica Históricas. Lisboa, 1963, p.p. 109 e segts.; "A História - Uma Paixão", In Nova História. Lisboa, 1986, p.p. 35; CARDOSO, C. F. e BRIGNOLI, H. P. - Os Métodos da História. Lisboa, 1983, p.p. 30 e 31e SALMON, Pierre - História e Crítica, 1979, p.p. 107-180.

[15]- GEFFRAY, Christian na sua tese de doutoramento, Travail et Symbol dans la Societé des Makhwa, 1987, p.p. 4-14, faz o ponto da situação sobre a produção científica em Moçambique, diga-se pouco lisonjeira para os estudiosos portugueses.

[16]- GAMITO, António C. Pedroso - O Muata Cazembe ..., cit., p.p. 12 e 13. O autor fornece instruções para melhor compreensão do conteúdo do citado Diário.

[17]- Antropologia Social, 1985, p.p. 69 e 73.

[18]- Nesta orientação, iniciada por Vansina, os antropólogos valorizam as tradições orais e com elas procuram reconstruir o passado. Para informações mais pormenorizadas consultar VANSINA, Jan - De la Tradition Orale. Essai de Méthode Historique, 1961, p.p. 759.

[19]- Refere-se a título de exemplo o trabalho do antropólogo NETO, João Baptista Nunes Pereira - Angola, Meio Século de Integração. Lisboa, 1964, que através da observação dos Boletins Oficiais de Angola obteve indicadores que lhe permitiram conhecer as tendências da administração de Angola, e FREYRE, Gilberto, especialmente em Casa Grande & Senzala e Sobrados e Mucambos, que constituiram tentativas de reconstituição e de interpretação da história social da família brasileira com base em manuscritos e anúncios de jornais.

[20]- Sobre estatemática consultar THORTON, John - "Para uma Antropologia Histórica do Congo". In Revista Internacional de Estudos Africanos, nºs 14 e 15, 1991, p.p. 331. Nesta última linha de orientação integram-se BALANDIER, George - La Vie Quotidienne au Royaume de Kongo du XVIéme au XVIIIéme Siécle; MARTINS, Manuel Alfredo Morais - Contactos de Cultura no Congo Português e Malpica do Tejo, 1986; GONÇALVES, António Custódio - Le Linhage contre l'Etat - Dynamique Politique Kongo du XVIéme Siécle; BALANDIER, Georges - Sociologie Actuelle de l'Afrique Noire, 1971 (p. XII), que realça a importância dos documentos de arquivo para conhecer as realidades do presente e do passado, GEERTZ, Clifford - NEGARA. O Estado Teatro no Século XIX, p.p. 15-21, que, através do trabalho de campo e da documentação, reconstruiu a organização estatal no Bali do século XIX, para a partir daí esboçar as linhas de orientação para o ordenamento do material pré e proto-histórico na Indonésia em geral e no Sueste asiático índico, entre outros.

[21]- BERNARDI, Bernardo - Introdução aos Estudos Etno-Antropológicos. Lisboa, 1978, p. 222.

[22]- BOCK, Philip K. - Modern Cultural Anthropology - An Introdution. New York, Alfred A. Knopp, 2ª Édition, 1974, p.p. 449. Mais simples é o conceito de HAVILAN, Willian A. - Anthropology. New York, 1978, p. 651: "The Study of the Culture History of Specific Ethnic Groups". Visa, pois, reconstruir a etnologia das sociedades extintas ou aculturadas a partir da Arqueologia e de arquivos (Dicionário de Etnologia de Panoff & Perrin, p. 68). Para Deschamps e Poirier é a etnologia do passado (p. 1434), a contribuição da Etnografia à História (p. 1436) ou mais alargada, a contribuição da Etnografia à História e da História à Etnografia (p. 1439).

[23]- DESCHAMPS, H.e POIRIER, J. - "Histoire et Ethnologie". In Ethnologie Géneral, p.p. 1434.

[24]- - BERNARDI, Bernardo - Introdução aosEstudos Etno-Antropológicos. Lisboa, 1978, p. 222.

[25]- Conceito que está ligado ao estudo "cronológico" da cultura e se refere à abordagem sincrónica que a estuda como às suas manifestações como um todo integrado num determinado momento considerado como "presente etnográfico". Haverá tantos "presentes etnográficos quantos os momentos pré-escolhidos (BERNARDI, Bernardo, op. cit., p. 79). Sobre a distinção entre etnologia: sincrónica, diacrónica e histórica, consultar TUBIANA, Joseph -"Moyens e Méthodes d'une Ethnologie Historique de l'Afrique Oriental". In Cahiers d'Études Africaines, Vol. II, Cahier 5, 1962, p.p. 5-11

[26]- Aborda os factos sociais e culturais na perspectiva de sucessão tempora(BERNARDI, Bernardo, op. cit. p.79)l

[27] - De referir que longe de constituírem oposições antag´ónicas e separadas as “sincronias” e “diacronias” estaddas em primeiro lugar pla Linguistica, representam maneiras complementares de entender na sua diversidade e unidade, qualquer processo histórico.mais indicaçõesver CARDOSO, C. e BRIGNOLI, H. – Métodosda História, cit, pp 79-80.

[28]- BERNARDI, Bernardo - Introdução ..., cit., p.p. 79 e 80.

[29] -Segundo HOEBEL e FROST- Antropologia Sociale Cultural. São Paulo, 1976, pp 12 e 13, Em Africa existem duas espécies de História_ a convencional que se apoia no estudo dos relatoa deixados pelos agentes da colonização e das normas colonais e a não convencional que tem por base e os relatos antropológicos da organização social e economica indígena.

[30] -Referem-se à concepção da disciplina antes e depois de 1924. A história tradicional dava ênfase ao tempo breve(biografias e acontecimentos). A nova história iniciada com Le Febre e Bloch passa a considerar também a conjuntura e estrutura-

[31]- Deve-se a Fernand Braudel as alterações metodológica e epistemológica, que ao aliar ao acontecimento, as flutuações conjunturais de duração variável e as estruturas, considera três níveis da história: o nível dos acontecimentos -história episódica, de superfície, dos acontecimentos, inscrita no tempo curto (micro história); a história conjuntural, a meia profundidade, com ritmos variáveis; a história estrutural ou de longa duração, que surge como uma invariante frente às outras histórias onde é mais visível a mudança. Para um conhecimento mais aprofundado do assunto consultar: BRAUDEL, Fernand - <M>História e Ciências Sociais. Lisboa, 1990, ed., p.p. 80 e segts.; e CARDOSO, C. e BRIGNOLI, H. - Os Métodos ..., cit., p.p. 26-28. Do tempo de longa duração se ocupou em "A Study of History", com 10 volumes, resumidos em versão portuguesa num único volume Estudo da História, São Paulo, 1984), Arnold Toynbee ao estudar as civilizações que, tal como os homens, têm um único destino inelutável:  nascem,  desenvolvem-se e   morrem. Das civilizações estudadas, em número limitado de trinta e uma, fora as abortadas (op. cit., p. 11), apenas cinco ainda vivem: Extremo-Oriente, India, Cristandade Ortodoxa, Islão e Ocidente. As civilizações, que estudou através das explicações ciclicas do seu destino, eram entendidas as mais pequenas unidades de estudo histórico a que se chega quando se trata de compreender a história do próprio país. Sobre a obra deste autor consultar: BRAUDEL, Fernand - História e Ciências Sociais, cit., p.p. 101-110, SILVA REGO, A. - Lições de Metodologia ..., cit., p.p. 242-249 e PHILLIPS, Bernard - Sociologia, Del Concepto a la Práctica, México, 1984, p.p. 532-533.

[32] - A quantificação sistemática surge ligada ao estudo da conjuntura económica com a ajuda de uma série de estatísticas, donde lhe veio a designação de história serial (CARDOSO, C.e OUTRO, op. cit., p. 25).

[33]- Na perspectiva de Evans-Prichard, que perfilhamos, a História, Arqueologia e Antropologia devem "estudar problemas e não povos" (Antropologia Social, p. 88). A sua análise permite conhecer situações, designadamente, conflituosos e agentes neles envolvidos, que de outro modo não seriam registadas.

[34] -CARDOSO, C, op. cit. p.28. A história demográfica surge com os historiadores franceses da economia que peocuravam inclir as variáveis demoghráficas nos seus trabalhos(pp 123 e segts)

[35] - Para DURKHEIM, Émile são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo e dotadas de um carácter coercivo em virtude do qual se impõem, que incluem normas jurídicas, morais, dogmas religiosos, sistemas económicos, costumes, crenças, tudo o que o homem encontra ao nascer (As Regras do Método Sociológico, 2ª Edição, Lisboa, 1984, p.p. 31 e segts.).

[36]- MAUSS, Marcel - Sociologia e Antropologia. São Paulo, Vol. I, 1974, Prefaciada por Lévi-Strauss, p. 14. Sistema entendido como um conjunto de elementos interligados de um todo, coordenados entre si e que funcionam como uma estrutura organizada.

[37] - Estamo-nos a referir à noção de facto social total..

[38] - Sobre as restrições oferecidas pelos documentos escritos produzidos pelo poder, consultar DUBY, GEORGES - <M>As Três Ordens ou o Imaginário do Feudalismo, 1982, p. 19.

[39] - SALMON, Pierre - História ..., cit., p. 202.

[40] - O paradigma holístico representa um avanço científico e epistemológico, que se traduz numa nova maneira de aprender a aprender, assentando no conceito de sistema. O termo holístico (do grego holos) significa "todo", "totalidade". Para um conhecimento mais aprofundado consultar: CREMA, Roberto - Introdução à Visão Holística, 1988, p.p. 12, 21, 59 e 68.

[41]- Actualmente, surge uma outra perspectiva ligada à transdisciplinaridade, que representa algum avanço metodológico em relação a inter, pluri e multidisciplinaridade e passa pelo encontro da Ciência Moderna e da Tradição, esta entendida como a memória dos valores da vida interior. A nova perspectiva abrangerá, sem excepção, todos os ramos do saber: as Ciências Sociais, as Ciências Exactas e também a Filosofia, a Arte e a Tradição. Mais pormenores encontramo-los em CREMA, R., op. cit., p.p. 91-102.

[42] - Sobre as relações especiais entre a História e a Sociologia ver BOTTOMORE, T. B. - Introdução à Sociologia, p.p. 73-75.,

[43] - Os diferentes Quadros encontram-se numerados por Capítulos, seguindo-se em cada um, ao número correspondente ao Capítulo, uma letra. Pela grande percentagem de Quadros do Capítulo II e por uma questão de uniformidade, optou-se em situá- los no final do texto principal, imediatamente a seguir às "Palavras Finais". Todas as fotografias utilizadas nas figuras fazem parte do trabalho de campo por nós realizado.

[44]- Mais pormenores sobre esta temática encontramo-la em KAPLAN, Abraham - A Conduta na Pesquisa, 1969, p.p. 172 e segts...

[45]- SERRES, Michel - "As Ciências". In Fazer História 2, p. 253.

publicado por ilhaskerimba às 20:21
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